6.2.10

DOC Ginga: em tempo de documentário


Nosso documentário está quase pronto para o lançamento. Enquanto isso, saibam como andam essas produções no Brasil...

Câmera na mão! É tempo de "doc. tudo"

Esta é a hora e a vez do documentário no Brasil. Nas listas dos filmes nacionais em produção, publicada mensalmente pela Revista de Cinema, vemos crescer o número de realizações de documentários. Em longas, médias e curtas, a realidade brasileira vem interessando cineastas novos e veteranos.

Sobretudo, vemos uma documentação bastante interessante ser produzida sobre artistas e intelectuais brasileiros de várias áreas – Tom Zé, Gianni Ratto, Celso Furtado, Milton Santos, Sergio Buarque de Holanda, Oscar Niemeyer, Nelson Freire, Nelson Sargento e muitos outros. Em abordagens bastante variadas, nossa cultura e nossa produção artística estão sendo documentadas, debatidas e refletidas, ficando disso um legado inédito para as novas gerações.

É significativo também o sem número de pequenos docs. (como são chamados pelos íntimos) realizados diariamente (sem exagero) nas escolas de todos os graus, com câmeras digitais de pequeno custo, finalizados em computadores domésticos em programas simples de edição. Só de TCC's em documentário (trabalhos de conclusão de curso de graduação) meu armário está cheio, dada a quantidade de bancas de defesa a que sou convidada para participar.

Diversidade alucinante de idéias, formatos, realidades, influências. E o mais espantoso e melhor é a constância de uma qualidade média alta dessas produções. Por mais simples e despretensioso que o trabalho possa ser, há um assunto interessante, contado de maneira fluente, com pessoas muito à vontade para dar entrevistas, opiniões, mostrar suas vidas, escolhas, particularidades.

Nas comunidades – forma como são chamados os grupos sociais que se aglutinam por proximidade geográfica, artística, religiosa, afetiva, etc – as práticas envolvendo a produção de docs. é crescente e afirmativa. Essa forma de expressão serve para organizar idéias, mostrar reivindicações, construir documentação social e histórica, produzir educação para vários fins, divulgação, registro.

É importante destacar ainda um programa que já chega a sua quarta edição – o DOCTV – com extensão do modelo para a América Latina. Promovido pelo Ministério da Cultura, através da Secretaria do Audiovisual, o programa envolve a linha produtiva completa de um documentário, desde a definição de seu conceito/formato até a exibição. Estendido a todos os estados brasileiros, com rigorosa determinação quanto à temática regional e participação de realizadores locais, as três edições já nas telas oferecem um panorama precioso de olhares, histórias e, sobretudo, competências que se revelam fora do viciado eixo Rio – São Paulo. Os documentários produzidos pelo DOCTV têm exibição garantida através das TVs educativas de todo o Brasil, oferecendo uma divulgação inédita e fundamental aos olhares tão ricos e diversificados que nossa cultura proporciona.

Há também outras emissoras de TV, ainda poucas e em canais pagos, que abrem espaço para o que chamamos "produção independente".

Os cursos de documentários, teóricos, práticos ou ambos estão sempre cheios e com listas de espera. E não me parece que se possa creditar esse interesse pelo doc. apenas pela facilidade de sua produção a partir dos equipamentos digitais. O documentário representa sempre um olhar mais agudo sobre o real e o cotidiano. Ele pode representar mesmo uma nova forma de refletir sobre o real, de filosofar, em forma de expressão diferente, mas não menos importante do que o texto. Não será uma interessante reflexão sobre o real e suas representações o filme "Jogo de cena" (2007) de Eduardo Coutinho? Não será "Serras da Desordem" (2005), de Andréa Tonacci, um tratado de antropologia, história e política?

A comunicação audiovisual está passando por uma grande transformação com os novos equipamentos digitais e com a convergência das mídias. Hoje, podemos ver quase tudo – novo e velho – nas telas de todos os formatos. E a tendência é que isso se torne o cotidiano e não apenas mania de aficionado.

O documentário fixa momentos e trajetórias, conflitos, soluções e criações que podem iluminar a história vivida para cada espectador que, a seu tempo e lugar, tiver contato com o filme. Todos os conflitos, contradições, tragédias e comédias com que a vida contemporânea se expõe aos nossos olhos estão pedindo uma câmera na mão que nos faça participar e deixar nosso legado de opinião, propostas, protestos e, de repente, não mais que a sensibilidade de nossa expressão artística. Vamos a eles!

Marília Franco: Professora da ECA-USP e coordenadora do ARUANDA lab.doc. – Laboratório e pesquisas e análises sobre métodos de produção audiovisual de não ficção.

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